terça-feira, 16 de agosto de 2011

A cabeça de um homem é um jardim

A cabeça de um homem é um jardim
Com flores e uma grama verde
A cabeça de um homem é um jardim
Com uma pequena cascata correndo
Para dentro de um lago oval
A cabeça de um homem é um jardim
Com seus pássaros e cordeiros saltitando,
Ah... e uma morena infernal
A cabeça de um homem é um necrotério,
Frio, silencioso e morto.
A cabeça de um homem é um jardim
Esquecido feito um sanduiche de presunto
No fundo da geladeira.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Provérbio para perdedores

- Sentado na sombra de uma árvore,
Opa, essa é outra história...

- Com meio copo de vinho
Sobre o balcão do bar,
Com um cigarro queimando
Entre os dedos e um chapéu
Caído sobre o olho direito.
Um senhor pequeno,
Que sentado no banco
Parecia uma criança com
Os pés balançando no ar a pedir
Balas; sussurra ao garçom:

“Um dia ficará sem amigos,
Sem mulher, dinheiro ou emprego,
Crédito, tempo e talvez, fama...
Um dia ficará sem tudo e terás muito
Porque é assim que as coisas são:
Incompreensíveis.

Então a risada estilo Homer Simpson
Cruzará o seu rosto como um foguete
Lançado em direção ao sol.
E lá, toda a luz é a penas um ponto
No grande infinito escuro.
Que amedronta, arrepia,apavora,
Cachorro, adulto e criança,
Pois um dia é muito tempo
Pra aquele que não tem nenhum”.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Isso ou aquilo

uma vez eu era forte o bastante para derrubar um touro com um soco
uma vez eu era forte o bastante para ficar 4 ou 5 dias sem comer e sem chorar
uma vez eu era forte o baste para isso, ou para aquilo, mas ainda sim eu,
podia ver nos olhos da rua,
todo aquele brilho e cor que nada me diziam
mas neste tempo eu era como uma porta,
neste tempo eu era como eu era:
igualzinho um gordinho que estudou comigo na sexta série,
só que sem as bochechas rosas
uma vez eu era
e de forte e burro passei a ser fraco e esperto,
tão esperto que às vezes eu mesmo me engano.
e tudo isso não significa nada,
se você não acredita em mulheres, trabalho,
mais isso ou aquilo
não interessa
o devagar sempre é o mais rápido
e o mais rápido quase nunca é o mais esperto
e o mais esperto não tem quase nada de forte
e o forte é uma mesa de biblioteca
cheia de livros

segunda-feira, 14 de março de 2011

É hora do show, jogue o jogo e faça as pazes com o rock and roll

Você sabe
Você conhece
A voz do mal
Você sentiu
O beijo do demônio
Você ouviu
O canto das sereias

A mulher mais linda do mundo
Que eu não conheci
Agora está aqui
The Clash toca alto
Dormir não é justo com ninguém
Se podemos lembrar
Morrer
Garagem sempre a vista
Um sorriso
Dois, três ou mais..

Ela deitada de bruços
Uma lata de ervilha aberta
Derramada no chão
O quarto fede a vinho
Cigarro e sexo
É um belo rabo
É uma bela mulher
Estou apaixonado
E com fome
Pego um papel
Faço de colher
Cato as ervilhas no chão
Mastigo-as com vontade
Querer e fazer
Só se distinguem na reflexão

Há algo de errado
Que não enxergo
Beber é o melhor caminho
Bater a porta e sair correndo
Virar a carne do avesso e tocar fogo
Na alma

Cantos da tarde

Falar de si mesmo é uma idiotice
Quando se está de acordo com tudo
E com todos; existem problemas lá fora
Aqui dentro, também, lá fora, aqui...
um cachorro correndo pela rua
um homem revirando o lixo
uma criança saindo da escola
uma mulher pedindo esmola
eu, nascido para ser poeta
sem cor, pátria ou navalha
um barbudo sentando no ralo
sorrindo embaixo do chuveiro
assistindo água levar
toda alegria embora.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os caras

Como diria Bukowski sobre a melancolia
Digo eu sobre a poesia, e melhor ainda
O meu amigo Davi enquanto trabalha,
Enquanto vive, olha para o mar e
Talvez sorri, canta e dança com seu violão.

O medo sim inclui a todos nós.
E Davi Jardim, o maior poeta
A surfar no litoral gaúcho dispara:
“A maior lamúria é a sensação de impotência”,
Concordo e chuto outra pedra:
“Eles não sabem de nada,
Nós é que somos os caras”.

Por cima da onda, descendo de peito
Sobre a prancha gritando para mim
Que estou sentado na areia
Ele diz: “Nós é que somos os caras”!

E sou capaz de ver aquele mar,
Uma vez marrom e agora azul;
O sol molhando as nossas costas
De luz brindando a eternidade
Enquanto todos fazem aquilo
Que tem que fazer e a gente fica ali:
Escrevendo poesia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Gotas de água descendo nas lajotas do banheiro

Suor pelo corpo, espirros, umidade, poeira.
Música em algum lugar; o ventilador
Sopra ar abafado.

Cartas nas mãos dos sábios,
Dos tolos, sorrisos falsos,
Todos querem ganhar.

Tudo dentro de um quarto,
De uma casa, de uma rua, de uma cidade,
Estado, país, planeta, mundo.
Minha mente fora disso escorre
Para dentro; feito as gotas de água
Descendo as lajotas do banheiro.

Desligo o chuveiro, ligo meu coração,
E respiro profundamente a beleza de
Cada momento ao lado dela,
Como um tolo jogador de cartas,
Viciado pela a posta, muito mais
Do que pela vida.

Dar uma chance para o amor
É quase isso, muito coisa é quase isso.
Então, como eu sei?
Sei disso tanto quanto sei do azul.
Vibram cores, cantam sabores,
Embebedam-se os poemas e dormem
Os poetas apaixonados.

Se é que existem poetas que não sentem
Todos os prazeres, todas as dores, todos
Os sentimentos possíveis e muito mais.

Feito anjos, não sei se existem poetas,
Verdadeiros poetas, que não possam
Falar e tocar Deus enquanto escrevem
Sobre aquilo que estão lembrando,
Sendo, prevendo... Ou seria, nadando
Em areia transparente?