terça-feira, 30 de novembro de 2010

Trifásico

Bêbado
Luzes acesas às costas
Tentar vomitar, não conseguir
Janelas, sempre há janelas
Quando não se enxerga
Cava-se um lugar para sorrir
Escuro, tranqüilo; morte estética
Sentimento acolhedor, legal;
A esperança é desnecessária por natureza
É o que se quer
Quando dormir é somente um sonho
De coisas que fazem
Coisas boas
Coisas
Morrer há caminho do mar

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Quando fores embora

quando fores embora
eu vou chorar
por todos os outros dias
que eu ri,
ri, sem parar;
de coisas estupidamente
mágicas que eu vivi.

quando fores embora
eu vou chorar
toda vez que eu comer
pizza calabresa.

quando fores embora
eu vou chorar
quando mosquitos adentrarem
pela minha janela.

quando fores embora
eu vou chorar
ao tomar caipira e ver alguém vomitar,
eu vou chorar.

quando te fores,
vou chorar como uma criança
vendo lutas e narizes quebrados
na TV.

quando não estiver mais por aqui,
vou chorar batendo nas teclas,
bebendo vodca, lembrando
de Caldo Knorr, Epocler,
do Blues que nunca escutamos
e das roupas de marinheira.

quando saíres pela porta
da minha vida pela última vez,
espero que seja apenas
pela porta do amor,
que tenhas partido da minha cama,
dos meus braços, partido apenas disso
e não tenhas partido pela porta do mundo;
pois se partires por esta,
que eu tenha ido antes.

quando fores embora eu vou chorar,
pois lembrarei não sei porque
de tomate, internet,
x-bacon, maconha, e essas
tais de festa ravi.

quando partir vou chorar,
mais tarde rir e voltar a chorar,
por ter feito tão pouco em tanto tempo
que foi e sempre será pouco,
ou quase nada.

tenho vontade de chorar
ao me precipitar,
ao lembrar do que nem foi
ao saber do que é
e ter medo de rir
do que parece,
mas não é engraçado.

231 palavras agora
que não podem dizer
absolutamente nada
sobre lembrar do que não acabou,
chorar do que nunca se chorou
e matar o que não morreu.

quando estiveres longe
vou chorar;
esses cabelos não são os seus!
estas unhas também.
que malditas pernas são essas?
e porque diabos essa criatura
a minha frente não conhece o Adair?

quando fores embora
talvez eu chore porque
tudo que eu goste
me lembre você.

porque estará por aí,
no meio desse monte de nada,
onde um ou dois,
no máximo três, sabem
que você não é aquilo que fez
mas aquilo que faz.

e digo mais,
é aquilo que faz comigo,
e pode ser feito
com qualquer um outro,
por isso, vou chorar.

por imaginar que talvez
este outro, seja só um outro
e não o outro
que queres que seja.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

I

I

Imagino que os políticos profissionais
são como os poetas famosos
contemporâneos, fodem
com a coisa toda de tal
maneira que a política
assim como os gênios poéticos;
morre, sem nunca ter respirado.

Solidão

As pessoas são egoístas demais.
Me toco disso, quando penso
em uma folha amarelada
caída, colada no pó
em uma rua qualquer
de Pequim.

Eu que nunca estive lá,
penso nela, enquanto
escuto as lamúrias
injustas do mundo.

Ninguém se preocupa
com tal situação.
Ninguém a vê,
ninguém a nota,
ninguém a quer...

O poeta transforma a solidão
em magia, os homens
reclamam problemas.
A matéria se resume
a causa e efeito,
a impotência:
inclui a todos
nós.

A Crítica literária

“Neruda não é ruim”, ela diz
“eu que não gosto de ler ele
é meloso demais
agüento um ou dois,
mas logo enjôo”

“acho que tu ia curtir o Ginsberg”,
digo...
“quem é esse”?
“ah...
um viadinho ai”.

“se não for meloso demais
e fizer sentido”...
retruca

e o que faz sentido?

Matar, roubar, amar,
foder, nascer, morrer,
trabalhar?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Não te culpo

Clipe da música "Não te culpo" interpretada pelo meu grande amigo Luiz Américo Alves Aldana: O PARAGUAY

http://www.youtube.com/watch?v=zGFQ-XToZV0&feature=player_embedded

um poema de gerações

Meu avô era fotógrafo e segundo familiares,
gostava muito de ler, morreu de câncer aos 62 anos,
sozinho, fumando Luxor longo, com os dois rins podres
de tanto beber a solidão numa casebre cor de nada.
Uma mulher o arrasou e ele nunca conseguiu
preencher o espaço em branco deixado pelo amor.

Meu tio está com 50 anos,
gosta de arroz com galinha, bebe pouco, não fuma
e possui uma compreensão fácil das coisas,
assim como meu avô.
Casou-se de novo, tem um bom carro,
uma casa e problemas com os filhos do antigo casamento,
acredito que vê neles a traição da ex-mulher.
Trabalha muito, reclama da falta de dinheiro
e está a um passo da loucura.

Daqui dois meses faço 24 anos,
sou repórter de um pequeno jornal
da minha cidade natal, estou devendo 700 reais
para o meu tio, bebo e fumo regularmente,
o que deve estar ligado a hereditariedade,
mas e o amor?
Ultimamente nenhuma das minhas
ex-namoradas saem da minha cabeça,
estou ficando atormentado e não
vejo saída, a não ser outras garotas.

Meu avô era um grande cara,
não sabia fazer um churrasco muito bom,
mas contava histórias como ninguém.
Meu tio tem um coração incrível,
também não sabe assar uma carne,
mas sua ironia é capaz de fazer
até um cachorro sorrir.

Tenho medo de trilhar o caminho do meu tio
e acabar como meu avô.
O maior medo é trilhar o medo,
A maior loucura é tentar fugir dela.
E a maior bobagem...
É não temer ser a sombra
de alguém.

Tudo queima

Não foram poucas às vezes
Que fiquei aqui
E agora
Não é diferente
Mulher alguma
Bebida alguma
Nada

O cigarro me faz tossir
E o que pode me libertar
Não sai de mim
Se esconde
Onde eu tranquei essa porra de salvação?

É melhor eu desligar as luzes e dormir
Escuto o barulho do vai e vem
Dos mosquitos zunindo no escuro
E continuo aqui
Como ontem,
Hoje e talvez amanhã

Sorriu por não conseguir chorar
Rezar, cantar, ou qualquer
Outra merda que o valha

Os cabelos da ruiva
No bar da esquina
Ainda devem
Estar queimando

Tudo queima
O frio, a porta, as janelas,
A mente das pessoas
Que parecem saber para onde vão

Tudo queima
Enquanto congelo
Como um cadáver vivo
Enfrente deste espelho
Sujo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Hino da eternidade

Todas as mulheres em seus lindos sonhos,
Pesadelos para qualquer homem.
Homem de bem, homem justo.
Fuga qualquer da realidade,
mundos,
quantos mundos?
Quantas teorias abolicionistas de paz,
conclusão e a afeto,
até que o próximo garoto nu tenha escolha?
Desdenhamos em álcool para morrer de fome amanhã?
Divorciamos nossos planos,
crendo e impondo a qualquer outro a nova era,
de vida, ressurreição embebida em benzina.
Dinamites por toda a parte,
estopins molhados de lágrimas.
Artefatos musicais descolados do rock
e uma grande vontade trepar com alguém
que já morreu de sede esperando por nós.

Interdependência

Fiquei esperando aparecer,
dia e a noite,
não veio...

Fiquei esperando para chorar
e nada.
O que é bom e
faz tempo que não acontece.

Disparo as palavras,
Disparo,
escuto o sopro do vento
que é de prata,
labirinto de intrigas minhas;
caro leitor que aqui encontra
coisas estranhas, banais,
sobre um brasileiro esperançoso,
cansado de esperar por ela.

- O que seria da América Latina
se não fosse a esperança?

Primavera de inverno
que não surpreende
mais há tempo,
pois não sei o que fazer
por ela, por mim,
e com estas palavras,
que precisam
estar em contato
com a outros
seres vivos.

Fome

Lata de ervilhas aberta
Fome
Cabelos vermelhos
Corpos brancos
Fome

Tudo volta Algum dia
Solidão
Angústia
Nostalgia

Garrafas vazias de vinho
Estômago gritando
Úlcera sangrando
Um cigarro queimando

qualquer feriado, dia qualquer, lugar se quer

um banco de concreto
olhando para o mar,
a água salgada lambe a areia
litros de caipirinha, mais
filosofia, inocência , risadas

um quiosque de concreto
mesa estranha, gente
esquisita
coisas malucas,
uma mãe tatuada chora,
um cara cansado a abraça

olhos correm em direção a praia
com um baseado, com um coração
com um pulmão, aceso
a mão de deus toca as cabeças
que não pensam em nada
tão maluco quanto
conhecer a felicidade
concreta

outra mulher

não te torture mais
ela te deixou
e não há, solução...
o verão que se passou
podia ser melhor,
mas ela igual te abandonou
sem recordação, sem dó
e os fantasmas também;
estão nas feridas que não param de sangrar.
é noite na cidade,
está frio dentro de casa
e na televisão não tem nada pra você.
seu copo está vazio e a garrafa também,
são seis horas da manhã
e não há nada pra fazer.
não te torture mais, ela te abandono,
mas outra mulher na tua vida chegará,
algum dia chegará...