quarta-feira, 18 de agosto de 2010

poemas...mais uns

Revolução

Não se preocupem
a pós-modernidade chegou,
o comunismo está próximo
e o fim do mundo também.

Nossos heróis subversivos
estão reunidos nos diretórios acadêmicos
das universidades particulares,
com um copo de coca-cola na mão
e um quadro do Che Guevara na parede.

Tramam o grande golpe
usando Allstar,
escutando Chico Buarque,
enquanto escrevem
a nova constituição
em notebooks.

Agradecem por não terem
servido o exército:
sua única oportunidade de segurar
uma arma de guerra nas mãos.

Não se preocupem,
nossos revolucionários,
mais corajosos e espertos
do que os de outrora,
tem internet wirelles
e não precisam se preocupar
com comida.

Vivem à custa dos alienados,
abandonaram seus empregos
para não sustentar o sistema,
não comem carne e só fumam
fumo de corda.

Não fiquem preocupados, pois
quando a bomba estourar
nossos revolucionários estarão
fazendo parte daquilo que
eles sempre sonharam.

Viver numa eco-vila no meio do nada,
de pernas prá cima o dia todo,
fumando maconha,
lendo Marx, discutindo
o materialismo histórico.

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3x4
Bem...
há muito mais aqui
do que em qualquer lugar,
a qualquer hora,
custo ou benefício.

Há muito mais aqui,
do que imagina,
atrás dos olhos, da marra,
do ânimo, da praça e da sinta.

Do preto e do branco,
da desfocada paisagem,
que nem se nota, pois há
muito mais aqui, do que
em qualquer lugar...

Há muito mais aqui,
do que para onde estás
a olhar, pois lá,
certeza tenho,
que você não vê,
o que agora posso enxergar.
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25 anos na cara,
Um curso de filosofia pela metade,
uma banda de punk rock
falida, há 10 anos falida...
ex namoradas, ex namoradas
uma família sorridente
uma vó enterrada
e um coração chorando.

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A doença de escrever

Quando nada mais é suficiente,
Cerveja, amor, dinheiro
Ou burrice gratuita.
Fome, dor, nada distrai;
E paredes amareladas
Começam comer sua alma,
Não há muito que fazer.

Tudo sai para passear,
E não sobra nada
A não ser um livro fechado,
Uma lembrança vaga
Dos cabelos,
Mãos pé e toque.

Um cara com uma guitarra
Gritando no rádio
E as feridas são tão doces
Que um demagogo
Sozinho poderia
Se empanturrar
De tanto açúcar.

Mas resolve escrever,
Por quê? Deus do céu!
Há algo estranho,
Além das coisas
Que não se entende;
Lembranças, o hoje e
O amanhã que chama
Com um rosto sereno
E familiar.

Sem conseguir dizer nada,
Ser nada, ter nada,
Quer nada:
Os relâmpagos são engraçados
Quando vistos na TV
E os problemas alheios
São maiores do que uma
Simples tosse alérgica.

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A hora dos gatos

A noite
Às vezes saio para fumar,
Bem...
De dia também:
O pessoal aqui não gosta
Que se fume dentro de casa.

Tem uma enorme avenida
Em frente à calorosa morada.
Quando acho que já tirei
Todos os quadros já pintados dela
Noto que a sempre mais...

De noite, sento no cordão a pitar
E três gatos me assistem.
Falo com eles e parecem me entender,
Mas quando me aproximo fogem.

Não vão muito longe,
Ficam por ali,
Olhando-me assustados.
Tem um em particular
O mais corajoso,
Ou idiota,
Tenta me fitar,
Mas logo corre como os outros.

Tem pelos arrepiados e parece sujo.
Me identifico com ele e
Dou uma risada sozinho,
E solto a fumaça.
E nós quatro rimos,
Da noite,
Da vida,
De mim mesmo,
E da avenida.

Que é nossa,
Como nunca antes fora de ninguém,
Além de nós,
Ali,
Rastreando um ao outro
Com os maiores pensamentos
Criados e irreprodutíveis por
Qualquer outra coisa, que fale,
Mie, ou ande...

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A nova ordem mundial

Os computadores estão por todos os lugares possíveis.
A religião nunca foi tão desacreditada e o dinheiro ocupou o lugar da fé.
Milhares de igrejas são formadas a cada dia impulsionadas pelas deturpações do novo testamento bíblico.

A ganância está impregnada nas igrejas,
que se apóiam nas palavras puras de Cristo para bitolar milhares de almas perdidas,
pois as informações do mundo globalizado são tantas,
assim como os seus acessos,
que é impossível lutar por uma ideologia.

Tudo está dentro de tudo e controlado por algo maior,
é mais fácil acreditar no novo céu,
na nova terra e numa vida de desapegos materiais,
do que confrontar a realidade,
que não parece mais real,
mas sim, um filme do Steven Spielberg.

Os que não perdem a fé completamente,
acabam sendo capturados por pastores “capazes de amenizar o sofrimento”,
com adaptações da filosofia budista para o bem viver na terra,
manipulações estas, fundamentadas com promessas já ouvidas em outras épocas:
“você terá um terreno no céu”.

Nunca na história do homem foi tão fácil controlar o mundo.
Os grandes empresários querem uma salvação,
os crentes fingem acreditar na fé,
são tão hipócritas como os seus temidos “demônios”.

A primeira palavra de igualdade global,
todos irão se render como ovelhas ao seu pastor.
Com lindas palavras de igualdade racial,
monetária e educacional,
saídas das bocas de ídolos contemporâneos,
que estarão aparecendo dia e noite
em todos os veículos de comunicação,
a humanidade se renderá a uma só voz,
lei e controle.

E o homem que tanto esperou para conhecer Deus,
poderá tocá-lo, pois este terá carne e osso.
E com o advento da clonagem humana e da manipulação do DNA,
será uma questão de escolha e tempo,
para que este cara faça o que quiser com as nossas vidas.

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A responsabilidade roubou a oportunidade

Fiz uma festa
pra por umas bandas
de garagem a tocar.

Não foi lá essas coisas.
Quando se está
rumando aos 30 e se bebeu demais,
fudeu demais e leu demais,
nada é tão interessante, assim.

Tinham muitos cabeludos por lá.
Lésbicas, bichas,
heteros, cerveja quente...
receio que ninguém se divertiu,
tão pouco os viciados
que fizeram negócio a noite intera.

Mas teve uma mina que chegou
e partiu sorrindo,
feito uma bala no meu coração.
Ela não deu oi nem tchau,
apenas gritou: “e ai?”,
abraçando-me feito uma junkie bêbada,
me sacudindo pra lá e pra cá.

Deveria ter abraçado-a,
mas não o fiz.
Sai de fininho, pra arrumar uns cabos
para os microfones e ver se eu não estava
sendo roubado no caixa do bar.

Agora que a festa terminou
e com a bela não falei,
sinto que deveria ter deixado as bandas
sem microfone e, porque não,
ter perdido uns trocos no caixa?

O legal é não se arrepender de nada.
Esse sem dúvida é um dos segredos da vida.
Muitas vezes, porém, as responsabilidades
não recompensam, apenas frustram.

Cara, se por acaso ver aquela garota
de sorriso vermelho e olhos azuis,
fale com ela por mim.
Se estiver de carro, pare e desça.
Ou de avião, mande o piloto
fazer um pouso forçado
ameaçando-o com uma latinha
de coca-cola rasgada.
De qualquer maneira, perca as estribeiras
e seja mais homem do que eu.
Talvez você vá preso, ou perca algo,
mas e daí?
É só mais uma perda numa vida de perdas.
Semana passada, roubaram todos meus livros
do velho Buk
E sabe o que eu fiz?
Nada.

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A resposta está no vento

Tenho vontade de chorar toda vez que escuto Bob Dylan,
não consigo parar a música,
os sentimentos, os desastres categóricos
deste bebum inveterado, tarado que
vos fala.

Um transe caótico de ondas sonoras
molhadas pela rouquidão insana
escrita pela razão.

Cantando sozinho,
soluçando, sem saber nada de inglês,
as teclas não param,
a música não para,
a navalha,
a dor,
a morte,
a podridão,
a risada
de toque da consciência,
não para.

Não, nem o A e,
trêmulo frente a vida
cato os quadradinhos coloridos anestésicos
como uma galinha ciscando o terreiro e,
isto chama-se extinto de sobrevivência.

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Agarradinha
Ela está vomitando no banheiro.
Há umas três horas atrás apareceu na minha porta.
Sua avó morreu.
Disse que precisava de mim, não entendi,
mas aceitei hospedá-la.

Tomamos uma garrafa de tequila,
meia dúzia de cervejas no bar de costume
e agora ela está atrás de mim
apoiada no vaso cantando uma música
da minha banda favorita
que está tocando no notebook
e nem eu sei a letra,
mas estou de pau duro
e de alguma forma ansioso,
por saber que ela gosta
de me chupar.

Sorriu junto ás teclas,
dando uma longa tragada no cigarro.
A noite é mais fácil que o dia.
Pela tarde quando acordei
fui direto ao bar do Mario
tomar uma pra curar a ressaca.
Depois comprei uma alaminuta;
almocei só, olhando o
Luciano Huck.

Neste instante
ela está beijando meu pescoço
e pondo uma das mãos dentro das minhas calças.
Os deuses resolveram olhar para baixo.
Tudo ficou tão simples: preciso fazer aquilo
que tenho que fazer.

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Aguardando em alfa: Creedence, Brahma e sorte

Estive por muito tempo perdido,
Acreditando que as coisas podiam ser diferentes,
Não foram,
Então voltei.
Aos velhos discos de rock,
A cerveja barata, as noites insanas,
Aos A’s, A’s e A’s...
E não há melhor lugar que lá
Junto da poesia,
Do nada,
Da sobra de tempo,
Poder,
E burrice gratuita.

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Agulha na cadeira

Há um problema em não estar na moda
Há um problema em não usar chinelo de palhaço
Há um problema em não quer estar preso a nada
Além do seu próprio umbigo
Há um problema grande quando as garotas
Tem nojo em olhar pra você
E seu irmão mais novo acha que você é burro
Ou um perdedor que ainda não saiu da adolescência
Há um problema em gostar de Ramones no país do carnaval
HÁ um problema quando se considera Amado Batista
O maior compositor romântico brasileiro
Há um problema quando o mundo não está de acordo
Há um problema quando você insiste em se adaptar
Mas só leva na cara e não consegue ir ao cinema
Se não por intenções sexuais
Há um problema grave ao ser tachado como criança ou louco
Se você é pão duro e não toma remédios
Há um problema ao insistir na beleza desastrosa do ser humano
É doloroso escutar que no noticiário sangra
E não pode se explicar que essa é a realidade
Que eles querem que você acredite
Mesmo sabendo que viver não é estar sentado bebendo cerveja
Com uma puta diferente a cada 20 minutos em seu colo
Há um problema com os critérios de felicidade
Quando estes estão ligados ao prazer
Há um problema em ser você mesmo
Em tentar transcender junto da roda gigante lotada
Quando se está pateticamente atrasado
Pelo fato de não ter vontade, força, e estímulo
De ver o mundo como eles vêem
Há um problema quando se gosta de fumar tomando banho
Quando se tem mais de 2 bilhões de pessoas sem água
Há um problema quando se reconhece nas outras pessoas
Só e somente, na qualidade egoísta
As pedras no sapato me forçam a andar descalço
Pisar no chão,
Sentir a realidade não é uma escolha,
Mas uma imposição
Note que hoje alguém saindo do trabalho tornou-se doador de órgãos
Enquanto outra pessoa teve uma segunda chance
Há um problema quando a sorte não é valorizada
E você nunca se imaginou tendo nascido no Haiti
Mas podia ser na Tanzânia,
Já pensou, morar no topo do kilimanjaro?

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Ame e foda o quanto quiser, se possível escreva sobre isso

Há uma coisa que se chama amor
E outra que se chama sexo.
Prefiro o sexo antes do amor
E o amor com quem não faço sexo.
Sou a pessoa a qual mais amo no mundo,
Assim, às vezes transo com quem amo.

Dessa forma, também sei fazer um sexo apaixonado,
Pra não dizer que não falei das flores,
Que não sou um insensível,
Também tenho toques hipócritas.
Afinal,
Escrevo poesia,
Muito mal,
Aliás.

Levando em conta as minhas últimas trepadas.
Noto que as melhores foram
Com garotas tolas e conseqüentemente,
Vãs e ocas.
Penso que essas minas não escrevem poesia,
Assim não devo ter sido uma boa foda pra elas.

A arte não é pra todos eles dizem.
Uma boa foda não é pra todos eu digo,
E tem mais,
Quem escreve muito,
Fode pouco,
E quem ama muito,
É corno,
Ou não sabe fazer outra coisa.

Escreva menos,
Foda mais,
Ou escreva algo útil,
Assim como Fernando Pessoa,
Eu tenho um livro dele
Calçando o pé da cama lá de casa.

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Apertado, molhado
Você não entende:
Duas mãos atrás de você
Uma coroa de pétalas
Seu troféu
Firme como nunca fora
Palavras em sua nuca
Uma vontade
Todas as vontades
Expectativa
Um poeta
Em meio aos poetas
Um bohemio
Em meio aos desesperados
A dor é prazer
A calcinha é púrpura
Ela se esfrega em meu pau
A cara dela roça a cabeça
Meche com as tetas
Sabe brincar
Poe na boca
Escuta-se lentamente
O urro do urso

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Atravessando a loucura na velocidade da luz

O combustível é The Sonics.
A paisagem passa rápido,
As janelas estão todas abertas,
As portas se abrem para o belo sair
E me dar um aceno.
Faço um gesto com a cabeça,
Já passei.
Um piscar de olhos é o suficiente para ir e voltar
Do reino do céu.
Lúcifer sorri no trono:
“esse garoto é maluco”.
O roteiro se desmancha na construção.
Nada é fato,
Infinito é paixão,
As mulheres estão lá,
Os rapazes aguardam sua vez.
Deus bate palmas e grita junto:
“psycho”!
A paz dirige a insanidade,
O cruzeiro, a plataforma plana,
A qual estou,
Reto, como uma bala
cruzando o peito da morte.

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Entre malditos e santos, um pouco de loucos

Beber por ai
Transando como um coelho,
Hoje aqui, amanhã lá:
Paris, Londres, Moscow...
“Fazer a vida valer a pena”.
Não,
Isso não vai te ajudar,
Não mesmo.

Trancar-se no quarto
Com os alemães,
Gregos, franceses e russos,
Comida vegetariana, exercícios
Leitura e meditação...
Muito menos.

Boêmios
Não são maiores
Colaboradores sociais
Do que os padres.
Amores platônicos
E poesia
Não fazem de ninguém
Alguém especial.

Muita experiência
Sem reflexão
É apenas maconha.
Incríveis reflexões
Sem experiência
São só placebo.

A dor é real
E ser feliz
É sofrer o mínimo possível.
E agora?
Estamos na corda bamba,
Ouvindo as sereias
E de mãos dadas
Com o super homem.

Para as batidas do coração
Valerem a pena
É necessário deixa-lo de lado
E educar a razão
Como um cachorro,
Que abana o rabo,
Mas também sabe
Morder.

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Bocas desenhadas não falam, tão pouco beijam

Você podia ser minha salvação
Você, seu gato, um cheiro diferente
Meia dúzia de enroladinhos de salsicha
Um pouco de Pepsi
Viva o tio Sam
Podia ser
Mas não é

Você podia ser novidade
Um presente do Noel
Uma vitória
Numa vida de perdas
O passaporte para o céu
As brincadeiras não feitas
As risadas não dadas
A mão de unhas coloridas
Ela bem sabe
O quanto gosto de unhas...

Podia ser o agora
Enquanto estou preso no futuro
Um pouco disso
Um pouco daquilo
Ergo o copo
É mais fácil que a espada
A guerra parece justa
Que diferença faz morrer antes ou depois
É sempre fim
E a gente nunca começa...

Pois só podia
Só pode
Não é

O pior está por vir
É a impotência que mata um homem
A potencia é o que pode salva-lo
Tu continua sendo
Mas não é.

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Bolas de gude também voam

Entre olhos de peixe,
olhos de gato,
tantos olhos...
Nunca entendi nada dessas coisas,
acho que fui pouco ao zoológico,
mas já vi coisas o suficiente pelas ruas,
que seriam capazes de impressionar até Jesus.

Olhos ...

Os dela eram diferentes,
Com certeza e,
mais bonitos.
Queria arrancá-los e levá-los pra casa.
Por no bolso,
brincar com eles
no domingo,
atirá-los de encontro ao sol,
a chuva, a noite,
contra as estrelas,
tanto faz.

Jogá-los para cima:
fazê-los voar
Como pássaros rumo à carência,
para iluminar a solidão
de qualquer um,
para não dizer que eu estou,
fudido também.
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bom demais pra questionar se é verdade

escutando a boa música
esvazio o cartucho da pistola
em direção ao infinito
enchendo o pulmão de fumaça
e a mente de esperança
batendo o pé
sem pensar em nada

são tão raros esses momentos
que é injusto não fechar os olhos
e mergulhar o mais fundo possível
no vinho dos deuses
onde tudo faz sentido
e não há espaço para melâncolia

embriagado de satisfação
reabasteço a alma de poesia
esperando as próximas horas
que não escolherão
como e onde vão bater

então gozo,
queimando
no fogo do prazer.

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Bom samaritano
Pelo simples fato de não querer perder tempo
com nada,
ficamos depressivos.

Não existe nada tão aconchegante quanto
viver por viver,
numa constante mentira prazerosa.

Só deus pode fugir disso.
Tente ter tudo agora e irá se frustrar.
É preciso abrir mão do agora para ter um amanhã,
o que é doloroso demais,
mas não se consegue nada sem sofrimento.

Como um jogo de quebra-cabeças
junte seus pedaços
e fique forte,
forte,
pois é preciso apanhar
para vencer sempre e continuamente.

Isso não significa ter vergonha
de sentir-se carente,
porque a vida não espera nada de você.
Então, não tenha pena dela, tão pouco raiva.
Procure a paz na humildade e
um dia as coisas serão mais fáceis.

Você olhará pro céu e rirá:
“você sabe poucas coisas das coisas”,
quase nada da vida”.

E o mundo voltará a ser duro.
Só há uma maneira de sobreviver e mil outras
para ser feliz.
Agora escolha.

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Confusão: arte de matar

As pessoas não se entendem,
os aviões no World Trade Center
comprovam isso.
a demência nazista é brincadeira de criança.
mulheres pleiteiam amor como sinônimo de sexo,
homens amam o sexo,
há preconceito com a justiça como um dia
o sol girou em torno da terra.
ninguém se entende.
fábricas de armas enriquecem mais
que os Bancos,
os especuladores são sacerdotes da igreja,
a igreja é a política pública.
atravesso as ruas com medo,
olho pra baixo,
mas garotas sorriem.
não diferente dos outros bilhões de
machos retardados,
me entusiasmo.
“você não pode me comprar com versos”.
elas dizem.
enquanto isso,
existem toneladas de corações quebrados
embaixo das pontes, dos telhados das casas;
nas prateleiras dos supermercados,
no rádio, na TV,
nas Prefeituras e nos churrascos de domingo.
há corações quebrados por todos
os lugares possíveis,
feito disputa de valores,
iguais, corruptos, gananciosos, tendenciosos,
que engolem o mundo e nos mastigam
com os dentes da modernidade.
há faces brancas e sorrisos amarelados
tatuados em nossos corações
como símbolos de prosperidade.
as atitudes e a força de vontade
entraram em extinção,
a revolta humana
não é capaz de apagar uma vela.
a força se concentrou no ódio, na vingança,
mas deus está morto e eles,
continuam culpando-o,
pendurado-o na cruz,
mutilado,
com o rosto que eles escolheram,
sendo um símbolo de sofrimento.
cristo morreu por nós,
para continuarmos nos matando,
das mais diversas maneiras,
pois ninguém se entende,
e toda aproximação de afeto
significa interesse.
só enxergaremos a luz
em meio a desgraça
no dia que a matéria humana
e sua subjetividade infernal
for varrida da terra.
até lá estaremos resignados a sofrer
uns pelos outros.

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Contando com o ovo

De alguma maneira
que não sei qual é
as palavras
tem força
Isso é no caso
de você não aparecer

Acordei tarde, comi uma alaminuta
E há algumas horas atrás
Comprei uma garrafa de vinho tinto suave
Confesso que prefiro o seco,
Mas como você viria, então...

O ser humano
É algo tedioso
Fazemos planos, sonhamos
Sem nenhum motivo se não
Esquecer da morte

Agora estou aqui de novo
Sete horas da noite
com as letras cortando meus pulsos
a televisão e a garrafa
olham pra mim

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Crítico literário

As grandes obras têm algo em comum
Com as grandes pessoas
Dor, superação e incompreensão
Tudo mais é igual ao que
É servido no Mac Donald
Pequeno, faz mal e custa caro

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disfarce do tédio

a música certa na hora errada
pode matar um homem
há caos nas tripas,
quando a paz
se apresenta como amiga
é duro aceitar a beleza,
seguir tranqüilo,
quando se penou
por tanto tempo
até chegar
a lugar nenhum.

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É hora de dormir
Uma garota
Mulher
Uma bunda
Na minha cama
Faz sinal de coração
Não são apenas mãos
Rolling Stones
Violões
Violinos
Ela se destapa
Se rasteja até mim
Desvia
Abre a bolsa
Empino minha cerveja
Apoiada em meus joelhos
Beija minha boca
Não preciso de mais nada
Ela ri
De mim
Da minha deficiência
Da solidão
“amor abaixa o som”
De pernas cruzadas
Me olha
Esfregando a cabeça
Na minha camisa velha de algodão
Roçando
Sua testa em minha barriga
Sente-se feliz
E eu
Encerrando
Mais um
Poema
Sobre
O amor.

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Escorando em um poste em qualquer lugar
Pessoas, ruas que se cruzam,
copos brindando,
o barulho da noite iluminada
mordendo, desfigurando
a cara da solidão.

A boa música foge
de uma janela qualquer.
A letra fala de armas, almas...
de coisas que ninguém compreende.

Um pandemônio se cria no latido
dos vira-latas de pelos ouriçados
correndo atrás dos carros,
que vem e vão neste autorama
comandado pelo petróleo.

A janela se fecha,
os sonhos se escondem.
Os vagabundos aparecem
pondo as calçadas para dormir.

Chacoalham seus sacos cheios de esperança
como se fossem chocalhos de ninar
feitos de latas, garrafas vazias;
restos dos homens que agora
dormem, ao som de
quadros soturnos.

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Deveria escrever mais
Beber menos
Mas eu também deveria ganhar mais
Foder mais
Sorrir mais
Cantar mais
Viajar mais
Que só me resta
Beber
Mais

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A garota de sorriso vermelho e dos olhos de sol azuís

Ela está sozinha,
Podia estar em qualquer lugar,
A liberdade não é problema.
É uma prisão estranha
Quando se faz aquilo que se tem que fazer.
E os amigos já não são mais os mesmos.
Então se arruma um gato, um cachorro,
Ou uma barra de chocolate.
Qualquer coisa é melhor do que se sentir
Bem estando indiferente.
E é por isso que nos matamos?
É por isso que sonhamos?
Bem...
Ela está lá,
E eu aqui.
Quatrocentos quilômetros separam-nos.
Brinco com uma lata de cerveja,
E toda forma de felicidade se restringe,
A esperar o amanhã.
***

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“Existem apenas duas maneiras de se apaixonar.
A primeira é estando bêbado, seja de poesia virtude, ou vinho,
como diria Baudelaire, sobre como encarar a vida.
E a segunda, é não gostar de si mesmo e encontrar
Deus usando saia curta, meia de arrastão, com os peitos
Balançando e sem calcinha”.

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Guardando as compras

Não há
Muito a se fazer
Num dia de sol,
Calor.
Muita gente.
Movimentação.

Esconder-se não é
A sétima maravilha do mundo.
Mas pode,
Salvar
Uma alma
Da desolação,
Da loucura
De se fazer parte,
Da normalidade.

Escrever
Não torna ninguém melhor,
ou pior.
É o cantil
Para atravessar o deserto.
A sobrevida.
Um gerador de esperanças.

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Livros, discos, médicos,
Mais contas sentimentos e lixo.
Some isso a nascer, crescer
engolindo a morte.
Terá um frouxo a fugir do tédio,
Em monólogos que as bocas
abrem e fecham...
E você fala, fala, está bem!
Bebe e fala, fala e bebe
E não abstrai nada.
A paz é coisa rara,
mas há muitas flores
para ti salvar.

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Música, música, dor, dor, dor...

Vagando através do som
De passos largos na rua,
as árvores me acenam forçadas
pelo vento.
Paredes descascadas, muros,
Janelas, portas uma cabeça:
Nada.

As garotas não significam nada!
Um pátio, dois ou três,
Mais...
Eu quero entrar,
É preciso correr riscos
As luzes se acendem para mim,
São seis da tarde.
A lua grita,
os pássaros calados
pelo barulho da minha alma,
a floresta,
uma multidão de prédios,
Ônibus cuspindo fumaça,
Um guri pede um troco para comer;
Eu vôo
Planando em meio ao nada
Assoprando o vento no rosto
Sem saber assoviar.
Quanta coisa cheia de merda,
Nenhuma.

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no final tudo sempre dá certo

aguardar a hora certa
é o mesmo que dar um tiro na cabeça
quem tem estômago segue em frente
quem fala demais
tranca a saída

se auto-estuprando
afogandos em metas
aguardam o impossível
com medo do nada
procuram a luz
como crianças
chorando na escuridão

zumbis perdidos
apodrecendo enquanto se movem
incapazes de entender o amor
vendem ódio
dor e vingança a preço justo

egoístas demais para acreditarem
num mundo melhor
temem a morte
e a opinião alheia
empurram a necessidade com a barriga
por falta de coragem
de puxar o gatilho.

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O empreendedor

As pessoas correm na rua
Tentando comer os cus uns dos outros.
Escondo-me delas, desempregado novamente
Com o sol batendo na cara e os dedos as teclas.
Esperando que alguém pague a bebida,
A garota, a vida...
Idem aos idiotas lá fora,
Melhores do que eu aqui,
Escrevendo sobre eles,
Que estão lá,
Fazendo o que tem que fazer.
Enquanto eu,
Mediocremente me orgulho de
Não fazer nada além de reclamar.

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Vocês têm o evangelho, e eu, o poema

Vocês não precisam do vinho,
pois tem o pai nosso,
não precisam de papel e caneta,
tem as suas bocas e os ouvidos de deus.

É preciso ser fraco para escrever,
eles dizem, a poesia aflora
os sentimentos mais fortes do ser.
Será fraqueza?

Toda vez que você se coloca como
alguém está perdendo,
sempre e continuamente.

O princípio está na fé, eles dizem,
“o resto vem automaticamente”,
mas na bíblia está: “o temor a deus
é o princípio da sabedoria”,
ou seja, a prudência mantém
os dentes na boca.

Toda vez que você se coloca como
alguém está perdendo,
sempre e continuamente.

A felicidade tem um fim nela mesma,
como a filosofia, por isso,
os prazeres não podem estar ligados a ela.
Cabe ao homem usar a consciência,
não como mérito, como devoção.

Toda vez que você se coloca como
alguém está perdendo,
sempre e continuamente.

O autoconhecimento é a única
formula de modificar o meio.
Consciência, prudência e um toque de medo
não são o caminho, a verdade e a vida,
mas lhe darão um rumo para seguir.
Te livrando da mediocridade, do destino e
da cadeia, com certeza.

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O inferno

Professores se queixando de seus salários,
Amigos e mais amigos que escrevem poesia;
Sustentados por alguém
Se imaginando geniais e únicos.
Todos nós somos.
Sustentados pelas mães, mulheres
Ou pelo estado.
Os que pagam seu papel higiênico lecionam.
Há mais professores do que alunos,
Poetas do que dor.
Os desempregados não querem trabalhar,
Eles tem um diploma,
Ninguém passará fome ou será preso
Se não tiver um filho,
Mas sempre se pode escrever,
Todos são poetas,
O demônio nunca se imaginou tão mau.
Deus não escreveu nada,
Conhecia bem os poetas quando os fez.
Eles não tem jeito!
Marx não acreditava na natureza humana,
Lia Shakespeare, mas não escrevia,
Não escrevia poesia,
Mas era doente,
Discutia filosofia.

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O nada
A melancolia é tão sem sentido
Que procurar um motivo
para a dor, num mundo
que é um sonho
carregando uma única
e minúscula verdade:
o despertar


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A pobreza é a mãe do tédio

O sol brilha
Não agüento escrever sobre isso,
Paro, suspiro, prossigo...
É a maldição das palavras.
A salvação do tédio.
Não gosto de esportes,
Um boquete custa 50 reais.
A música no rádio incomoda,
Não há o que afazer,
Além disso,
Que você lê e diz:
“Que nojo”.

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Oh, tu ai da barba branca?
Cara,
A casa dela é tão longe
Que a pé não dá,
Juro pra ti.
Mas seguinte:
Vamos combinar,
Please, deus meu querido.
Dessa vez, sem cachaça.
Diz ai?
Se eu trabalhar,
Quero receber, ok?
Daí eu compro uma passagem de buss
E passo lá pra dar um oi.
Ou façamos um trato,
Não quero recorrer ao diabo,
Por isso, to aqui,
De boa...
Me abrindo pra ti meu!
Da um jeito de dizer pra ela ter paciência
Porque ninguém tem
E tem outra?
Já que você não fala com as pessoas,
Eu vou falar:
O imediatismo é um dos piores defeitos
Da humanidade.
E eu sou egoísta o suficiente pra dizer
Que se isso é porque eles têm medo
E se sentem impotentes,
Eles que liguem, rezem,
Ou escrevam um poema pra ti,
Você gosta de poemas né?

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Os publicados

Tenho escrito e posto fora uma porção
de poemas tolos, chulos e fracos,
mas nada tão idiota e vazio,
como o que ando lendo
e que está sendo publicado,
empurrado feito merda descarga a baixo,
nas livrarias, bibliotecas,
bancas de revistas,
e nos bate papos dos super-intelectuais.

Algo horrível,
eu sei,
é patético o que ando escrevendo,
mas nada a comparado a essa joça
que cobre o mundo com nada.

Como isso acontece,
eu e você,
que estamos perdendo tempo lendo isso;
já sabemos.

Somos tão detestáveis e egoístas
quanto este poema, quanto as editoras,
quanto os poetas,
que estão mortos;
feito a maioria das pessoas do mundo,
que morreram,
antes mesmas de nascerem.

Melhor eu dedicar esta carcaça,
tipo carta,
à vocês,
que nunca entraram no jogo,
nem mesmo marcaram alguns pontos,
tão pouco criaram
ou foram vocês mesmos,
é,
vocês.

Estúpidos que se esforçam para não sofrer,
como tudo que ando lendo, escutando e vendo.
Estúpidos, com as mãos em frente aos olhos,
sem a mínima moral para lutar,
sem fome, gordos e incapazes de entender a arte,
o ser, o gole de vinho,
a baioneta nas tripas e a canção de amor.

A parada no tempo e no espaço,
no tudo e no nada,
a parada do coração,
o instante de luz escura,
deusa de ébano.

São só letras,
apenas símbolos,
não são poemas,
nem tiros,
nem gritos,
tão pouco arte,
quem dirá,
vida.

Pode ser qualquer coisa,
menos vida,
não é isto que vendem nas prateleiras do All Mart?

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Perdido além das lágrimas
Ei acorde, o que você quer,
Nesse lugar onde ninguém te entende,
Onde as pessoas falam de mais
Sobre pessoas que nem conhecem?
São apenas livros, cientistas,
Explicações e mais explicações
Sobre os fenômenos, aparências,
Não há nada de amor.

Cara você está fodido nesse sonho maluco
Quem nunca foi seu.
Saia daí, ainda há tempo
Enquanto puder ouvir a música
Dentro de ti, do badalar das suas tripas
Criando a casa, pintando as paredes,
Encontrando a porta de saída
Para um mundo seu, que te quer,
mesmo que você não o queira.

Acorde, caía da cama e
Não esqueça de gritar.
Ouça, escute,
Há tanta coisa dentro de ti
Que precisa sair além das lágrimas...
Sóis, luas; monte o quebra-cabeça.
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Poemas de amor a toda hora

Encontro elas na internet
sei lá como.
Apaixono-me e desapaixono
como troco de marca de cerveja.
Mando poemas pra elas.
Umas acham “fofo”,
Outras,
algo “sexy”.

Sinto como se pudesse comer
todas elas juntas e não sentir remorso.
Tem algo errado comigo e meus poemas,
que não a como definir aqui,
nem num poema imortal.
Poemas são sentimento,
sentimentos morrem.

Agora estou tentando
arrumar grana trabalhando
como promoter de festas
para encontrar
uma dessas
belas mulheres
que se vendem por muito.

Afinal,
como uma vez
disse um sábio poeta
amigo meu:
“claro que elas gostam!
Não é toda hora
que aparece um louco
escrevendo poesia
por ai”.


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Quem cresce é planta
Um homem não faz isso,
não escreve poemas de amor,
sonetos infantis e canções de ninar.
Não bebe a cachaça junto com a consciência
e não chora arrependido frente a conseqüência.
Um homem sabe o que ele tem de fazer,
respirar, sobreviver sem enlouquecer;
é chato como um papel branco
sem nada escrito.
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Querido diário

Um homem no mundo
De costas para vida
Enfrentando a dor
Sem um cachorro
Para dar um chute no cu
E um pinto para dar água

Nosso presidente
Passeando por ai
Com as mãos
Nos bolsos do paletó
E um grande sorriso na cara
Chutando as coisas com o corpo
De alma lavada
Com o sangue dos justos

Um pouco disso
Ou daquilo
Nos fariam bem
Agora

A guerra é santa
A crise é moral
As mulheres na lua
Eu aqui
E as vacas pastando
Sorriem mais que eu.

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Regozijando a vida, arte, o poema

entre mulheres, rock and roll, cervejadas
e a felicidade está o prazer:
boa companhia.
estar consigo mesmo sem pensar em nada,
trancado num quarto sorrindo.

um gole, bater nas teclas e acender um cigarro,
lembrar dos antigos amores,
das risadas que viraram choro e não se arrepender,
apenas seguir,
batendo nas teclas como um louco sacudindo-se
dentro da camisa de força.

Literatura,
bela, sem citar poema,
sem discutir filosofia,
sem máximas.

bater nas teclas dando um tiro na cabeça do Dostoiévski,
já que ele não foi macho o suficiente.
ensinar o velho Bukowski a trovar uma rapariga
sem tomar uma gota de álcool.

gostar mais de si acreditando em Deus,
sem precisar de nada,
ter experiência com o nada,
sem afogar-se em angústia.

seguir,
bem e gostando do sol.
capinar o pátio, suar,
fazer uma grande refeição e dormir embaixo da árvore,
amo-te literatura.
a vida deve ser vivida da forma que queres,
estou no prazer, sou grato por ter sido moldado simples,
gostando de poucas coisas, assim, é mais fácil tê-las.

prazer,
você ajuda-me a congratular a vida,
com tão pouco,
que tenho vontade de chorar.
complicado é não incitar
os outros
a sentir tal coisa.

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Ruiva de sorriso gelado

Ela deve estar linda
agora
com os cabelos ruivos
ao vento,
feito fogo do inferno
queimando almas.

A pele reluz,
a boca é cerveja cara.
não posso beber.

Ela triunfa vencendo os obstáculos.
Deixando-me em êxtase
a cada passo que dá,
com magras,
longínquas e destiladas pernas.
Passeando,
ao lado do seu namorado.

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Imagino que os políticos profissionais
Sejam como os grandes escritores.
Fodem com a coisa toda
De tal jeito
que a política
assim como os gênios poéticos,
morrem
sem nunca ter respirado.
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tomado pela melodia

arrepios, calafrios, a busca.
pássaros mudos encantam a multidão.
é a dança dos lobos,
escuros sussurros,
pedidos de ajuda,
beijos.

o sexo impulsiona o mal,
a coragem está na fuga
ao passo que os noz
se apertam, um a um.

perder o controle,
atacar o canalha,
não abrir as asas e conseguir voar
se torna cada vez mais difícil
quando se está
a procura do amor.

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troco ou me vendo por felicidade

esse balé insano
que não oferece nada a ninguém
a não ser desgraça,
é o que se ganha
por não ser burro.

poderia escolher qualquer fuga,
mas caso com a maior
armadilha de todas:
a poesia.

entrar e sair de casa,
tomar banho,
comer,
as vezes foder,
sempre dormir.
marretiar as teclas
enquanto se enfia a cabeça
dentro de um copo com alcóol
é o meu diário.

como um vira-lata magro
cambaleando em meio
a multidão
a cata da felicidade
dentro de um saco de lixo
nada sou, se não,
uma propriedade sem dono
a qual as placas de vende-se
são pregadas
umas sobre as outras.

E não há nada aqui
que já não esteja lá,
com sempre fora:
morrendo,
morrendo,
morrendo...
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Tudo queima

Não foram poucas as vezes
Que fiquei aqui
E agora
Não é diferente
Mulher alguma
Bebida alguma
Nada

O cigarro me faz tossir
E o que pode me libertar
Não sai de mim
Se esconde
Onde eu tranquei essa porra de salvação?

É melhor eu desligar as luzes e dormir
Escuto o barulho do vai e vem
Dos ônibus na rua
E continuo aqui
Como ontem,
Hoje e talvez amanhã

Sorriu por não conseguir chorar
Rezar, cantar, ou qualquer
Outra merda que o valha
Os cabelos da ruiva
No bar da esquina
Ainda devem
Estar queimando

Tudo queima
O frio, a porta, as janelas,
A mente das pessoas
Que parecem saber para onde vão

Tudo queima
Enquanto congelo
Como um cadáver vivo
Enfrente deste espelho
Sujo.

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Uma tarde, uma vida

Escrevo agora
dentro de um quarto barato
com um cigarro aceso
e o sol batendo nas costas
ao som de Echo & The Bunnymen.

Há uma mulher em minha mente,
sete reais na carteira
e algumas histórias para contar
sobre noites que não diferem dos dias,
pessoas que parecem micos de circo
e bebedeiras tão devastadoras
que me vazem esquecer
como é estar sóbrio.

beijo a loucura
olhando o corredor da morte.
tiro a garrafa do armário
e mergulho.
afogo a dor e me deito
sobre as horas.

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Véia Ciza

Como não estava presente,
penso que minha avó
deixou esse mundo
sem dar o último suspiro.

Aos 72 anos abandonou a dor,
a angústia e o nada.
Deixando em mim duas marcas:
uma em minha mente,
que se questiona
sobre a eminência da morte
e o medo do desconhecido,
e a outra tatuada em meu braço,
com as letras que compunham
o nome dela.

Não conhecia seus sentimentos,
suas dores mais profundas,
somente suas palavras.
Portanto, como um bom egoísta,
ser humano este que sou,
penso nos meus.
E de como é vazia
e sem sentido essa vida,
que não me preparou
para despedidas.

Desde novo, dar tchau
foi sempre um problema.
Ficar longe do leite em saquinho,
das batatas doces
e do figo em calda
era aterrorizador.

O que falar então
do conforto de um abraço
após a perda de uma namorada,
do chá de boldo e das represálias
depois de um porre?
Ou ainda, de um futuro neto
que nunca irá lhe conhecer.

Quantos tiveram uma banda de rock
ensaiando na garagem da avó?
Quantos tiveram uma avó
com o espírito tão jovem,
para não dizer, infantil,
capaz de deixar sem jeito,
até mesmo aqueles que diziam
já ter visto de tudo?

São poucas as pessoas
que não saem da buceta
e vão direto para a cova.
Minha avó foi uma delas.

Diferente, genial, ranzinza,
convicta nos seus ideais,
artista de sua própria vida,
mas assim, como qualquer outro
que apanhou demais,
descobriu rápido que a felicidade
está nas pequenas coisas
e no prazer de poder repeti-las.

Possuidora de uma bundinha
sensacional,
de aparência frágil,
magra, de estatura baixa,
de unhas grandes
e cores vibrantes.
Esta mulher cuidou e amou
por mais de 30 anos
um “homem”, que não sabia
o significado desta palavra.

A mulher que não suportava
ficar sem aspirina,
dinheiro ou cigarros.
Que ficava sentada
na ponta esquerda da mesa da cozinha
com a cuia de chimarrão em punho,
me esperando do serviço,
pra me pedir para ir à lotérica.

Um quadro pintado em minha alma:
minha avó escorada no muro verde (rosa)
de grades brancas,
me dando adeus.

Imortal, agora,
como sempre fora,
como todos os meus heróis,
todos aqueles
que me fizeram ser quem sou.

Ela está lá:
não na literatura,
ou na música,
mas sim,
no seio da minha família.

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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Postagens paradas

Blog dormindo por tempo indeterminado!